terça-feira, setembro 13, 2011

Floricultura de Almas

“Vendem-se almas aqui”.
 Era isso o que dizia o grande cartaz branco em frente a casa.
 “Temos de todos os tipos, cores e tamanhos”.
Parada na frente desta, estava uma mulher de pele branca, longos cabelos negros e olhos da mesma cor. Usava um vestido comprido que beijava o chão de concreto frio.
E tinha no olhar uma tranquilidade inabalável.
Parei em frente, sem conseguir conter o espanto. 
Ela sorriu misteriosa, e antes que eu notasse, estava ao meu lado.
-Interessado? – a voz dançou em meus ouvidos.
-Como se podem vender almas? – estava estarrecido.
-Do mesmo jeito que se vende amor, felicidade. 
Tudo é comercializável, querido. Não havia notado? Ou você acha que sua mulher ainda está contigo por causa das grosserias que você diz para ela?
Me arrepiei inteiro ao ouvir tais palavras.
Como podia ela, uma desconhecida por completo, saber da reclamação mais frequente da minha mulher? Não consegui falar.
-Ou ainda – disse ela sussurrando em minha orelha - que sua filha gosta do fato de ser completamente ignorada por você? Eu vendo almas, assim como vendem flores.
O propósito? Alegrar alguém, enfeitar uma casa.
Sem que eu notasse, ia me aproximando do lugar, como que arrastado por uma corda invisível.
-Como flores?
-Como lindas flores.
-Você tem rosas? Minha mulher adora.
-Mas a flor preferida dela é o girassol, esqueceu?
-Girassol... Nem me lembrava mais.
Era uma espécie de torpor que me consumia. Girassol. Verdade.
No dia que nos casamos ela entrou na igreja com sete girassóis nas mãos,
“Para dar sorte” ela me falou e sorriu.
Tantas coisas que havia esquecido voltavam a minha cabeça.
O nosso primeiro beijo, o casamento, nascimento da filha.
Havia me esquecido de como viver bem.
O tempo passa. Ele passa e devora.
-Quanto eu tenho que pagar por uma alma nova? – recobrei a consciência.
Não obtive resposta. Não havia mulher. Apenas uma casa abandonada.
E um homem no meio da rua. 
Ele tinha acabado de comprar uma alma nova.
Desconheço Autoria

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